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Mostrando postagens de março, 2017

Carta aberta ao relacionamento abusivo que ainda vivo #projetohisteria

Quando li a respeito do Projeto Histeria, ministrado pela Natacha Orestes e outras mulheres, senti um largo interesse dominar as minhas vontades. Quis imediatamente que meu blog também fizesse parte de uma plataforma colaborativa e social para ajudar sobreviventes de abuso sexual a serem virtualmente confortadas. Mais adiante penso em rebuscar melhor esse projeto a fim de também atuar em parceria com o #projetohisteria. Resolvi falar também, substituindo o nome por letras variadas.  Dentro de mim todos os nervos estão atacando um ao outro. Como se houvesse uma guerra. Um vazio tão grande coberto de soluço, medo e aflição. Eu não sei se amei Z. Porque dói e fazia doer velhas feridas abertas na minha infância. Eu busquei reconhecer em nosso namoro todas as tuas qualidades sobrepondo, assim, todos os teus erros acima e sob qualquer custo. Dói continuar um ciclo repetitivo onde nada evolui, e onde nada se transforma. Dói na mesma magnitude compreender que nem um homem será, um dia, c

A reconstituição da mãe e da filha

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Eu estava pensando na minha mãe. Hoje acordei pensando nela e muito provavelmente vou dormir pensando nela. À minha volta eu vejo muitas mulheres que sofrem nas relações com as suas filhas. É difícil esperar que a maternidade seja assertiva quando ela é imposta, quando ela é introjetada compulsivamente pela heterossexualidade e pelo homem. A maternidade, assim como o estupro, e decorrente do mesmo, é incisiva na estrutura social de dominância. É a arma secundária do patriarcado para manter as mulheres secularmente domesticadas por uma suposta preparação para tornar-se mãe. Ser mulher é tornar-se a mãe fantasiosa bíblica e sagrada: cuidar dos filhos, da casa, do marido, ocupar-se em ver novelas e telejornais, às vezes sair com as amigas para falar sobre coisas supérfluas, abdicar-se de suas necessidades para suprir a dos filhos e do marido, dedicar-se quase que cegamente à criação de outro ser e, quase sempre, buscar algum tipo de conforto e estabilidade emocional/econômica na vida de c

Quantas Julias Cabem Em Nós

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Por correr em sigilo de justiça, os nomes de todos os participantes deste caso foram omitidos. O primeiro indício foi agitação noturna. O sono agora era inquieto, com algumas frases soltas: “não… para… não quer”. Apenas o que o vocabulário de uma criança saberia pronunciar. Julia tinha dois anos e meio quando surgiram os primeiros sinais do abuso sexual. Hoje tem sete anos, e ainda permanece em situação de risco. Logo em seguida ao sono turbulento, desenvolveu pavor por qualquer figura masculina, salvo raras exceções. Pequenos movimentos a assustavam, mesmo que não direcionados a ela. Fechar a porta do quarto a aterrorizava. Paralelo ao medo surgiu um comportamento estranho: brincadeiras sexualizadas. Num dia, levantou a roupa da boneca, colocou-a no colo e proferiu uma frase que chocou a mãe e avó materna: “Não gosta, vovô … não gosta…” Todos os comportamentos apresentados por Julia, uma menina de Campo Grande, MS, são considerados comuns em crianças vítimas de violê

O estupro e a raiva

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Em desabafo escrevo para mim mesma e para aquelas que comigo se identificam e que com elas eu me identifico. Às vezes ser mulher negra não é nada fácil, e quase sempre nunca é. Mas de vez em quando, repentinamente, nos pega de surpresa um sentimento tão grande e imenso de vazio e cansaço que é difícil explicar. Estupros, incestos, violência doméstica, violência nos partos, abusos sexuais na infância, doenças decorrentes a maus tratos sexuais, todos estes são fatores que fazem com que a vida de muitas mulheres e meninas se tornem imparcial e uma só. Não importa em qual parte do mundo estejamos: estamos sofrendo, morrendo, tendo que conviver com as lembranças de um abuso sexual cometido por algum homem. É horrível. É absurdo ter que viver assim, doente, pensando nos espaços vagos que tantos traumas e exigências nos colocaram ao longo da vida. É, muitas vezes e na maioria delas, muito difícil ser mulher. E quando se é negra, bom, a dificuldade que já é insuportável consegue piorar.  Uma

O homem branco nas relações de educação em espaços escolares

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Sou estudante do ensino médio público. O que mais vejo hoje em dia é uma grande ascensão de homens na profissão de professor. Os espaços que antes eram, de certa forma, destinados às mulheres, hoje em dia possui uma outra forma de existir. Essa existência material diz respeito as participações dos homens em diversos lugares da sociedade que antes eram limitados às mulheres porque não eram "trabalho de homem" (culinária, licenciatura, etc.). Sobretudo hoje em dia os manequins trajaram novas roupagens e o que vemos em grande escala são homens licenciando nas escolas diversas disciplinas, inclusive disciplinas menos técnicas ou matemáticas, como na área das Ciências Humanas e Ciências Sociais. Desde o primeiro ano do ensino médio em que estudei na escola pública, percebi essa nova - porém extremamente desconfortável - de homens (brancos) atuando como professores de Ciências Humanas e Sociais em números consideravelmente maiores a atuação de professoras nesta mesma área.  Te