O homem branco nas relações de educação em espaços escolares

Sou estudante do ensino médio público. O que mais vejo hoje em dia é uma grande ascensão de homens na profissão de professor. Os espaços que antes eram, de certa forma, destinados às mulheres, hoje em dia possui uma outra forma de existir. Essa existência material diz respeito as participações dos homens em diversos lugares da sociedade que antes eram limitados às mulheres porque não eram "trabalho de homem" (culinária, licenciatura, etc.). Sobretudo hoje em dia os manequins trajaram novas roupagens e o que vemos em grande escala são homens licenciando nas escolas diversas disciplinas, inclusive disciplinas menos técnicas ou matemáticas, como na área das Ciências Humanas e Ciências Sociais. Desde o primeiro ano do ensino médio em que estudei na escola pública, percebi essa nova - porém extremamente desconfortável - de homens (brancos) atuando como professores de Ciências Humanas e Sociais em números consideravelmente maiores a atuação de professoras nesta mesma área. 

Tenho um profundo problema com as escolas e com tudo que nela está historicamente imbuído. Quando vemos homens dando aula sobre Sociologia - Sociedade, abordando assuntos raciais, de gênero e de outras questões emergentes, como política, me sinto extremamente preocupada, desconfortável e com certo grau de irritação que perpassa o corpo. Tudo na ótica do homem branco da esquerda é altamente nociva a construção da educação em um ambiente escolar, ainda mais considerando que escolas públicas abrigam realidades carentes de indivíduos. Quando resolvem falar sobre direitos humanos, não sabem o que estão falando. Diferentemente de falarmos sobre direitos humanos aos sete ventos, estamos falando sobre um tipo específico de ideia universal que não funciona para determinadas pessoas. O uso do termo "minoria" nunca serviu para que eu associasse uma parte considerável de pessoas e grupos dentro da sociedade como algo inferior, apesar de ser inferiorizado. O que vemos, recentemente, são professores de História e Sociologia demonstrando o quão evoluídos são, supostamente cobertos da Razão e do Conhecimento Universal, que partem da premissa que são "desconstruídos" (palavra da vez) e que, portanto, podem e devem refletir de modo revolucionário o modo de pensar dos alunos, visto que estes em limitações sociais acabam não questionando a veracidade dos conteúdos e da didática do professor. 

Vejo, com muita frequência, o quanto o discurso da esquerda institucional (que não rompe por definitivo o laço com as estruturas do Estado) sobre o feminismo é utilizado perversamente para continuar fragmentando em pedaços minuciosos a realidade que o homem branco esconde por detrás da descolada maneira de pensar, de agir e de "militar". Hoje em dia ser militante da esquerda virou parte do currículo. E, longe disto ser algo horrível e pecaminoso, é, também, uma grande propulsão de ações que caem por si mesmas, que continuam velando silenciosamente as posições do homem branco como homem desconstruído, "feministo" e livre. Aquele homem cabeça-aberta, que é contra o capitalismo, que defende o direito das "minorias" (mulheres, negros e GBT), essas coisas que servem como perfume para disfarçar o cheiro ruim de toda a estrutura patriarcal. E tem, também, em sala de aula, o famoso discurso de "nós também somos vítimas do patriarcado", dentre outras coisas. Às vezes vemos o reducionismo proposital no discurso masculino sobre as "minorias" que sofrem preconceito. Lembro da aula do dia 16/03/2017 que falava exatamente sobre minorias. E, dentre essas minorias, estavam todos em uma mesma farinha de saco: mulheres, negros, GBT's, deficientes físicos, idosos e etc. E a premissa do professor era de que o machismo, o racismo, o fascismo e todos os demais sufixos ismos eram decorrentes do preconceito social, porque segundo o professor, a sociedade consistia historicamente em padrões, e mulheres, negros, GBT's, deficientes físicos e idosos saíam deste padrão e existiam como algo "diferente" e parte da "diversidade", e por isto o preconceito era gerado, porque saía do padrão branco, pátrio e cristão. Tive um professor de História da Arte, Religião e Sociologia que comentou sobre a noção dos padrões estéticos da sociedade. Segundo ele, no período paleolítico a escultura de Vênus de Willendorf, esculpida em calcário oolítico, representa a fertilidade da mulher (como genitora da humanidade, fonte da reprodução, a Mãe-Terra) que "revolucionava os padrões estéticos", mencionando que a sua forma abundante nos seios, vagina e barriga, fazem menção à percepção de que a mulher farta representava a fertilidade, e quanto mais farta melhor. Ele não mencionou sobre as deformidades desta escultura, que mostram os braços extremamente frágeis escondidos sob os seios grandes e os pés tão pequenos que seriam incapazes de suportar a estrutura em si desta "pessoa" esculpida. Foi no período paleolítico? Estudiosos apontam que sim, e pesquisas cientifícias e paleontológicas também. Passou-se um tempo e, é claro que fiquei com aquelas aulas sobre "estética" na cabeça. Entrelinhas eu estava muito desconfiada daquela disciplina. O professor era um homem branco e gay, assumidamente gay, que fazia parte dos movimentos GBT's e defendia acirradamente conceitos e propostas sociológicas com base na perspectiva do pátrio conhecimento que exacerba sutil ou brutalmente as noções de domínio sobre a sexualidade da mulher. Era um racista em potencial e um misógino também, que reduzia a história da mulher, na perspectiva do homem paleolítico e moderno, como fonte de reprodução e fertilidade, por isto que quanto mais abundante fosse, melhor ela seria para fins de reprodução. E que, por isto, devíamos respeitar as mulheres gordas e as mulheres não-gordas, porque elas eram desde os períodos mais remotos respeitadas pela sua capacidade de reproduzir e fertilizar. Dentro dessa perspectiva e daquilo que me parece óbvio, é claro que eu discordo dessa visão e rejeito essa maneira masco-sociológica de enxergar a história e descontextualizar as estruturas patriarcais no ponto de vista mais antigo da humanidade.

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Venus de Willendorf,

 Quando possuímos homens brancos em espaços da educação, onde sabemos que o poder de influência e protagonismo são constantes e consequentes, vemos a dificuldade de estabelecer algum tipo de lógica e de avanço nas lutas de emancipação das mulheres e dos negros, especificamente falando, vide que sou negra e mulher, o que consiste ter de lidar com duas esferas de opressão extremamente fortes e seculares, e que atualmente sofrem dificuldades sistemáticas em avançar nas lutas porque ainda temos homens majoritariamente brancos falando sobre liberdade de expressão, "minorias", direitos humanos, feminismo e machismo, e reduzindo todas as opressões ao termo errôneo e perfeitamente tosco de "preconceito" e "diversidade". Ser mulher e ser negro não faz parte da diversidade. Se sofremos com a misoginia patriarcal e o machismo não é porque fazemos parte de uma diversidade que transgride às noções de padrão. Há uma estrutura milenar por detrás destas opressões que moldam conforme os tempos as necessidades dos homens de se adaptar às suas necessidades de oprimir, submeter e desumanizar as vidas. O patriarcado não é uma criação voluntária e espontânea. É domínio ideológico, político, econômico, social e cultural. E se adapta nas civilizações clássicas e modernas, bem como também está incrustado nas religiões e nas tribos. O patriarcado não é uma invenção recente e não é um preconceito contra as mulheres, é um sistema consciente e violento que atenta milenarmente contra a vida de mulheres, pessoas designadas fêmeas que sofrem por estupro desde o nascimento, e que são reduzidas a uma socialização limitada e violenta para continuar servindo à casta predominante nas sociedades tribais e civilizatórias: a classe do macho. Dentro da perspectiva destes professores, o racismo também é um preconceito, apenas isto. Porque segundo eles, ser negro destoa do padrão social branco e cristão e, por isto os negros sofrem, por fazerem parte de uma "minoria" ativa da diversidade. Ser negro não é sobre fazer parte da diversidade. E longe de ser apenas preconceito, o racismo não se reduz a isto. O racismo é sobre estrutura sistemática onde o homem branco exerce secularmente o poder sobre as comunidades não-brancas de forma colonizadora, desumana e violenta, para poder se nutrir e se substanciar economicamente, culturalmente e socialmente de seus esforços e de seus trabalhos escravos. O racismo não é sobre preconceito, é sobre institucionalidade, é sobre este discurso racista de que ser negro é ser diverso e diversificado, é fazer parte da diversidade. O racismo não é preconceito. É um sistema de exploração de uma classe racial sobre a outra, que precisou da ciência e da religião para continuar a manutenção dessa exploração, a fim de submeter negros, indígenas e povos não-brancos a trabalhos forçados e gratuitos, onde, além de todas as situações de mão-de-obra e desumanização, também passou a destilar ódio e aversão ao Negro, transformando-o e reduzindo sua humanidade em desprezo, humilhação e ódio. Ser negro é ser negro, com todas as reticências que nos cabem, mas definitivamente não é sobre estar nas palavras do homem branco pós-moderno sociólogo, que na sua "humilde" figura salvadora e heróica, leciona em escolas públicas para jovens negras e negros, pardos e pobres, na prerrogativa de estar iluminando aquelas pobres cabeças de suas incapacidades de pensar e raciocinar, e, por isto, devem ser ensinadas a serem "livres" e desconstruídas. É complicado quando nossas crianças e jovens estão absorvendo informações de pessoas que tem o poder de apagar facilmente a nossa história em questões de uma simples aula. 

POR QUE É NOCIVO ESTA SITUAÇÃO NA EDUCAÇÃO? 

Apesar de sabermos que a presença e o papel masculino em qualquer âmbito social é nociva, nas escolas seria menos nocivo se homens não cobrissem majoritariamente papéis de professores em áreas do conhecimento como Ciências Humanas e Biológicas. Por que? A questão que se põe aqui é quando falamos em sociedade nas escolas. Escolas: o depósito sistêmico de informações em formato de embalagem de supermercado onde, em seus limites, exercem um papel que se configura como "educação/educando", e que reproduzem secularmente as ideologias burguesas dissertado aqui e por consequência disso, influencia diretamente e indiretamente na vida das pessoas que ali estão. Considerando que o que mais vemos são professores homens em Ciências Humanas e da Natureza, sentimos, com certo desconforto, a disseminação ultrajada em formatos "liberais" de discursos, que continuam perpetuando conceitos sobre a dominação e a supremacia masculina na vida das crianças designadas fêmeas e das mulheres. Quando o professor da área de Humanas, aquele que é "camarada" de todos os alunos, famoso pelos comportamentos liberais e pelas aulas dinâmicas em sala de aula, aquele cujo impulso é tocar em assuntos "polêmicos" (gênero, racismo, etc.) e dissertar nas aulas democraticamente (......), convicto de seus ideais políticos e/ou atuante dos movimentos sociais, aquele que fala abertamente sobre "eu sou homem e eu oprimo as mulheres porque nasci em um sistema onde aprendi a agir e pensar deste jeito, eu sou um homem branco e machista, e, por isto, sou alguém altamente desconstruído ou em processo constante de desconstrução com a ajuda das MINAS". Até aí, é um discurso realmente muito perfumado. Cheira bem daqui e por outros lugares, mas sempre deixa rastros sobre o que esconde através dessas roupagens super bem alternativas. Acontece, mais uma vez, que o que estamos vendo não está revolucionando dentro das salas de aula, e também não está gerando debates que ajam na perspectiva de uma educação para livre e libertadora. Continua sendo o mesmo discurso proferido pelas vozes masculinas e brancas que sempre detiveram os meios sociais como aliados para continuidade do ideário patriarcal. E a escola não é diferente disto. A mente das crianças e dos jovens ficam surpreendidas e maravilhadas com o brilhante professor alternativo e dinâmico, que é "tão diferente" do padrão professoral que desempenha um comportamento padrão de informações. O deslumbramento é o que mais acontece, e o professor camarada, cria laços interativos e afetivos com os alunos, transformando-se automaticamente numa espécie de herói revestido atualmente com novos e mais descolados atributos liberais. 

AS DÚVIDAS QUE ENCILHAM A CAMINHADA ESCOLAR 

POR QUE não temos professores negros lecionando nas áreas de Ciências Humanas e Biológicas? 

POR QUE não temos mulheres falando sobre HISTÓRIA num olhar despratiarcal? 

POR QUE não temos mulheres negras nem como um quarto como professoras? 

POR QUE não temos mulheres negras sociólogas e historiadoras nas escolas? 

POR QUE essas mulheres não estão em maioria e nem mesmo parcialmente nos âmbitos escolares das áreas de conhecimento de Ciências Humanas e Biológicas? 

POR QUE não temos pessoas negras falando sobre racismo, colonização e África em uma perspectiva panafricanista, que abole o discurso europeu e pós-moderno sobre escravidão e aborda a História do Ser Humano de Pele Preta enquanto o próprio atuante de sua história nos ambientes escolares, na educação? 

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As dúvidas são inúmeras e pertinentes. Se não nos questionarmos a educação que recebemos, a herança e a ancestralidade de discursos supremacistas na visão do homem branco e não abordarmos as diferentes formas de readaptação no pós-modernismo das teorias liberais, como vamos nos defender? Não estamos na escola para aceitar qualquer método de ensino, qualquer forma de educar e de ressignificar situações históricas. Não estamos na escola para continuar idolatrando homens e submetendo mulheres negras e crianças negras a um nível de inferioridade absurda. A escola pode, sim, ter sido criada com os fins de manter os ideários patriarcais e culturais de opressão sobre as sociedades. Mas a escola passou a ser repensada, porque seres humanos precisam repensar sobre si mesmos. E a escola abriga meninas e crianças tão jovens que continuam consumindo informações erradas nas aulas de Biologia, Sociologia, História e Artes. Porque a Biologia atua como inimigo da mulher. A biologia científica, institucional, que reduz todo o ser que é fêmea a uma máquina de reprodução, fêmeas humanas e animais, plantas e etc., sempre está contra a mulher, sempre esteve a favor da manutenção do sistema heterossexual e da supremacia masculina. A História escrita e reescrita pelo homem branco sempre foi a forma mais convincente de apagar a história das mulheres em todas as suas esferas de existência ao longo da humanidade. A Sociologia é o liberalismo filosófico sobre a avaliação das sociedades que homens se apropriaram e resolveram dissertar a respeito, tratando com superficialidade questões raciais e de gênero, criando, assim, uma amistosa solidariedade com as teorias liberais e pós-modernas, que para além de causar algum benefício às pessoas que pretendem defender em seus discursos, só servem para a manutenção teórica e prática da supremacia masculina rebuscada e elaborada em novas atribuições de liberdade e desconstrução. 

Sem resposta e sem nenhuma espécie de fórmula para o futuro, a necessidade enquanto mulher negra de existir em lugares públicos de forma menos abusiva, colona e sórdida sobre assuntos sérios como gênero e raça-etnia, é que este texto foi criado. Discursos liberais é o que todos querem ouvir, porque tudo pode, até mesmo homens brancos virarem pessoas não-racistas e não-machistas, apenas desconstruídas por terem se dado conta de sua "posição social". Para muitos isto é um grande passo, uma grande e honrosa transformação e mostra sobre como nossa sociedade vai para frente, assim sendo, enquanto engrupa alunos em saudosismos ilusórios a um novo herói branco que veste novas roupagens: dreads, barba, tênis rasgado, textos sobre Che Guevara. É... o herói da história hoje é visto socialmente como algo que existe de acordo com a nova ordem periódica da nossa história do século XXI: o herói alternativo, desconstruído, feminista, branco e não-racista. Esse arquétipo de herói, virtualmente associado ao típico esquerdomacho, retrata nas salas de aula uma história exclusiva contada através do olhar do homem branco heterossexual, que continua sutilmente afastado de uma verdadeira proposta de libertação na educação e no conhecimento, visando o status soberano da supremacia masculina nas relações do mundo moderno. O patriarcado é ideológico. E quando individualizamos esse sistema estamos nos distanciando de entendê-lo em materialidade. As ideologias se adaptam, se revestem, se reformam e todo esse processo de recriação do original sempre foi o principal mecanismo de manutenção do patriarcado, bem como outros sistemas de opressão também agiram dessa forma ao longo da história racial dos povos africanos em diáspora. O patriarcado é ideológico, a sociologia pelos homens é ideológica, a história pelos homens é ideológica, a arte pelos homens é ideológica, a ciência pelos homens é ideológica, a filosofia pelos homens é ideológica, a arte pelos homens é ideológica. E as ciências Humanas e Biológicas está fadada a serem o meio, a área de conhecimento a qual também vai contribuir para a manutenção e permanência da opressão ideológica que está imbuída na estrutura da dominação masculina, o patriarcado. 

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